Francisco Barros – Gostaria de saber da HydroScience, de acordo com os estudos deles, quais elementos poluentes o passivo depositado no fundo das lagoas emite e por quanto tempo eles teriam capacidade de continuar poluindo se nada for feito.
R: Com base nos resultados apresentados no relatório de caracterização do sedimento do sistema lagunar, verificou-se a existência de arsênio, cádmio, chumbo, cobre, cromo, mercúrio, níquel e zinco nos sedimentos do sistema. Contudo, todos os valores registrados apresentaram concentrações dentro do limite máximo preconizado para águas salobras de Classe II, de acordo com a Legislação CONAMA 454/2012. Esses metais são componentes naturais da crosta terrestre, entretanto o demasiado aporte de esgotos nas lagoas contribui para que haja um incremento em suas concentrações. Como os sedimentos representam o principal compartimento de acumulação desses elementos, eles atuam como fonte contínua de metais, sendo sua disponibilidade variável em função das condições de oxi-redução. Em ambientes com sedimentos com textura silte-argilosa, como é o caso das lagoas de Piratininga e Itaipu, a capacidade de acumulação dos metais é maior devido aos processos de sorção e trocas iônicas. Com essas características, o potencial de disponibilidade dos metais para a coluna da água e a biota aumenta, podendo resultar na biomagnificação (acúmulo progressivo de substâncias de um nível trófico para outro ao longo da cadeia).
Gonzalo Perez – Coliformes maior em Itaipu O que será feito?
R: No cenário recomendado de longo prazo, que contempla todas as obras hidráulicas, está sendo previsto ainda o abatimento de pelo menos 20% da carga poluidora que chega nessa lagoa. Esse abatimento poderá ser alcançado através da intensificação das ações de fiscalização do sistema de esgotamento sanitário ou ainda com a implantação de um sistema tal como os Jardins Filtrantes em Piratininga. Além disso, se prevê também o desassoreamento do Canal de Itaipu que irá ajudar na renovação das águas da Lagoa de Itaipu e decaimento dos coliformes.
Antonio Oscar Peixoto Vieira – Quais as PRINCIPAIS recomendações para recuperar as duas lagoas?
R: Os estudos realizados até o momento demonstraram que as principais ações de recuperação do sistema lagunar Piratininga-Itaipu deve ser: 1) Desobstrução do Túnel do Tibau para aumentar a troca e a renovação de água na Lagoa de Piratininga; 2) Implantação dos Jardins Filtrantes para reduzir o aporte de carga que chega até a Lagoa de Piratininga; 3) Reduzir o aporte de carga em todas as sub-bacias que contribuem para a Lagoa de Piratininga e Itaipu através da implantação do programa “Se Liga”; 4) Dragagem do Canal de Itaipu para aumentar a troca de água da Lagoa de Itaipu com o mar; 5) Dragagem do Canal de Camboatá para aumentar a capacidade de circulação da Lagoa de Piratininga.
Luciano Paez – Serão abordadas as possíveis opções para uma solução definitiva para o Canal de itaipu? Digo: sedimentação de sua foz
R: Sim, o estudo abordou esse assunto e os resultados dos estudos morfodinâmicos apontaram que, além da dragagem para melhoria da qualidade de água das lagoas, os molhes precisam ser revitalizados para que a haja manutenção da dragagem sugerida. É de extrema importância que os molhes sejam alteados para impedir o transporte de sedimento sobre eles. Além disso, o comprimento atual dos molhes não é suficiente para impedir a entrada de sedimento da praia para o interior da laguna. Além do alteamento dos molhes, a solução definitiva para impedir o transporte de sedimento da praia para o interior da laguna é o prolongamento dos molhes em 140m. Porém, sabe-se que essa é uma obra com custo elevado e que também traz impactos sociais e ambientais quanto ao uso da praia e da lagoa nesta região. Por isso, como solução alternativa, propõe-se que, além de altear os molhes, sejam previstas atividades de dragagens periódicas, a cada 5 anos, para que seja mantida a profundidade da dragagem inicial.
Antônio Oscar Peixoto Vieira – Que medidas precisam ser tomadas para aumentar o ESPELHO das duas Lagoas?
R.: O aumento do espelho d’água requer necessariamente que haja um represamento da água, tornando esses ambientes com características mais similares a reservatórios, o que implica em maior tempo de residência hidráulica. Ambientes com elevados tempo de residência possuem menor capacidade de renovação hidráulica, diluição e depuração de constituintes. Portanto, menor capacidade de suporte para recebimento de cargas poluentes. Sabe-se que é muito difícil manter o equilíbrio deste tipo de ambiente em regiões urbanas como esta. A Hydroscience recomenda que enquanto não houver diminuição considerável dos aportes de cargas na Lagoa de Piratininga (acima de 40%), as obras hidráulicas devem priorizar apenas a redução do tempo de residência a fim de aumentar o fluxo de entrada e saída de água. Entendemos que neste momento ações que visam a sobrelevação do nível e do tempo de residência são contraditórios às ações de melhoria da qualidade de água enquanto este sistema for usado para dispersão e depuração de cargas difusas e até mesmo para dispersão dos efluentes das estações de tratamento de esgoto. Caso se opte por soluções que visam aumentar o espelho d’água é preciso garantir redução imediata e expressiva (superior a 40%) da carga poluente que hoje chega nesse sistema lagunar para que a qualidade de água nas lagoas seja aceitável.
Sonia Menezes – Se não tivesse o bloqueio do túnel, qual seriam os resultados obtidos? Dá para prever?
R.: Sim, é possível prever. Este resultado foi previsto por meio de simulação numérica. No Relatório “MODELAGEM DE QUALIDADE DE ÁGUA DO SISTEMA LAGUNAR PIRATININGA-ITAIPU FASE II: SIMULAÇÃO DE CENÁRIOS COM VISTAS AS AÇÕES DE RECUPERAÇÃO” foi apresentado os resultados de todos os cenários simulados e se constatou que a desobstrução do Túnel é essencial para a melhoria de qualidade de água da Lagoa de Piratininga. Porém, a desobstrução do Túnel de forma isolada não é suficiente para enquadrar em Classe I as principais variáveis de qualidade de água. Esta obra deve ser associada a implantação de projetos para redução do aporte de cargas poluentes que hoje chegam às lagoas.
Rogério Rocco – Há alguma previsão de intervenção nas margens do rio João Mendes, intensamente ocupadas há algumas décadas?
R.: Não há previsão de projetos de intervenção nas margens do rio João Mendes, nesta fase do PRO Sustentável. Contudo, a PMN vem buscando viabilizar projetos de saneamento nas comunidades da bacia do João Mendes, assim como vem fazendo na bacia do Rio Jacaré.
Renata Santos – Qual é a previsão de aplicação do projeto já que as nossas lagoas precisam de socorro urgente?!
R.: As ações de curto prazo para recuperação das lagoas já foram iniciadas. As obras de desobstrução do túnel do Tibau tiveram ordem de início em 17/08/2020, com previsão de conclusão em 30/01/2021. As obras de implantação da infraestrutura verde do Parque Orla Piratininga e, portanto, dos jardins filtrantes tiveram ordem de início em 20/08/2020, com previsão de duração de 18 meses e finalização em fevereiro de 2022. Para fins de abatimento da carga orgânica que chega na Lagoa de Piratininga, estão atualmente em fase de execução as obras de saneamento da comunidade do Vale Verde e foram finalizadas as licitações para contratação de empresas para realização das obras de saneamento das comunidades do Cabrito e da Saibreira, no Bairro Jacaré.
Beatriz Maestá – esse dado utilizado para a simulação e porcentagem do esgotamento está baseada em que?
R.: Os dados utilizados para construção e calibração do modelo foram levantados in loco durante um ano, tais como: batimetria das lagoas, diversas campanhas de qualidade de água nas lagoas e nos rios, medição de vazão nos contribuintes concomitante às amostragens e análises de qualidade de água dos rios para estimativa de aporte de carga em diferentes condições hidrológicas, análise de descarga durante os primeiros instantes de eventos hidrológicos (first-flush), entre outros. Os dados levantados permitiram conhecer melhor o aporte de carga que atualmente chega às lagoas. Todos os dados levantados foram apresentados em relatórios específicos entregues à Prefeitura e estão disponíveis para consulta. A partir dos dados levantados foi possível construir um modelo com capacidade de simular cenários hipotéticos com o objetivo de identificar qual o percentual de carga poluente é necessário abater nas bacias, juntamente com a implantação de obras de melhorias hidráulicas, com a finalidade de manter a qualidade de água em Classe I segundo a Resolução CONAMA 357/05.
Júlia Buarque – A eficácia dos Jardins Filtrantes atendeu às estimativas previstas?
R: O projeto dos Jardins Filtrantes prevê remoção de aproximadamente 45% da carga de matéria orgânica e 56% da carga de fósforo que chegam pelos rios Cafubá, Jacaré e Arrozal. No entanto, sua eficiência ainda não pode ser comprovada, pois os Jardins Filtrantes ainda não foram implantados.
Cleber Carvalho – Com as obras de desobstrução do canal da Lagoa de Piratinga (Túnel do Tibau) as águas da prainha de Piratininga não serão contaminadas com o esgoto da lagoa, deixando a praia imprópria para banho e colocando em risco as vidas das pessoas que lá costumam frequentar?
R: A principal variável para análise de balneabilidade é a densidade de coliformes, que tem se mostrado relativamente baixa em Piratininga. Nos períodos de monitoramento em que o Túnel estava sem obstrução a concentração média foi inferior a 50 NMP/100mL, sendo o que limite máximo permitido é 1000 NMP/100mL para condição satisfatória de balneabilidade. Essas concentrações seriam ainda mais inferiores no mar devido à grande capacidade de diluição. No entanto, é importante ressaltar que está sendo recomendado que, além da desobstrução do Túnel, seja implantado o projeto dos Jardins Filtrantes e abatimento de pelo menos 20% da carga gerada nas bacias, o que reduzirá também o aporte de coliformes.
Sonia Menezes – A carga orgânica da Lagoa de Itaipu não compromete a qualidade de areia depositada no canal?
R: Grande parte do sedimento que hoje se deposita no canal é proveniente da praia e não da lagoa e de suas bacias hidrográficas. Porém de qualquer forma, a carga orgânica da lagoa também impacta o sedimento no canal.
Francisco Barros – Mesmo que a questão do passivo depositado no fundo das lagoas for resolvida e o despejo de esgoto no sistema parar, a HydroScience considera que o prolongamento dos molhes de Itaipu continua sendo necessário?
R: Em tese, caso todas as fontes de cargas poluidoras fossem sanadas, não haveria necessidade de manter o Canal de Itaipu sempre dragado para garantir que a qualidade de água fosse satisfatória no interior na lagoa. No entanto, sabe-se que a hipótese de abater 100% da carga em região urbana não é factível. Por isso, recomendamos que sejam reduzidas pelo menos 20% das cargas geradas nas bacias atualmente e que, além disso, seja feita a dragagem do Canal de Itaipu e sua manutenção ao longo do tempo. Os efeitos da dragagem podem ser duradouros em função do prolongamento. No caso de manter o comprimento atual dos molhes a dragagem deveria ser realizada de forma periódica já que os molhes atuais não são suficientemente longos para impedir o transporte de sedimento da praia para o canal. Além da dificuldade em sanar todas as cargas poluentes difusas, a Lagoa de Itaipu recebe os efluentes tratados das Estações de Tratamento de Esgotos (ETEs) de Camboinhas e Itaipu, necessitando de maior circulação para aumentar a dispersão desses efluentes. Desta forma, diante dos estudos realizados, recomendamos que além de abater pelo menos 20% da carga poluente que chega em Itaipu seja realizada dragagem do Canal de Itaipu e previstas ações para manutenção desse canal, seja pelo prolongamento dos molhes ou por dragagens periódicas de manutenção.
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Gonzalo Perez – Jardins filtrantes são só em Piratininga e Itaipu?
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Jean Philippe – Existe previsão de jardins filtrantes em ITAIPU?
R: À princípio, foram projetados jardins filtrantes apenas para a Lagoa de Piratininga, no âmbito do projeto do Parque Orla Piratininga. A Prefeitura de Niterói está estudando a viabilidade de implantação de jardins filtrantes também na Lagoa de Itaipu.
Ricardo Dodô de Mello – Aumentando tanto os molhes e fazendo uma dragagem tão profunda não corre o risco de alagamento nas casas e condomínios construídos ao redor da Lagoa de Itaipu?
R: Os estudos mostraram que a dragagem do Canal de Itaipu aumentaria a oscilação do nível dentro da Lagoa de Itaipu. Isto é, seriam observados níveis mais baixos e mais altos no interior da lagoa e a troca de água seria mais rápida. O nível d’água mínimo na Lagoa de Itaipu seria de -0,32m sendo que atualmente é de 0,05m. Ou seja, redução de 0,37m do nível mínimo, deixando expostas por algumas horas as margens da lagoa até que o nível do mar entre na lagoa novamente. Esse ciclo de secar e encher as bordas da lagoa irá ocorrer a cada 6 horas. Quanto ao nível máximo, atualmente se observou 0,82m e com a dragagem do canal de Itaipu seria de 0,99m, aumento de 17cm do nível máximo. Acredita-se que este aumento do nível não seria suficiente para causar alagamento em regiões já ocupadas. Porém, recomenda-se que, para evolução dos estudos, seja realizado um levantamento topográfico detalhado no entorno da Lagoa de Itaipu para avaliar a extensão desse aumento do nível d’água e se de fato não atingiria propriedades já consolidadas.
Antônio Oscar Peixoto Vieira – Foram feitos estudos sobre os impactos causados pelo aumento dos moles?
R: O estudo desenvolvido avaliou o impacto dos molhes na taxa de sedimentação anual na desembocadura e seus efeitos na renovação das águas no sistema lagunar. Porém, não foram desenvolvidos estudos aprofundados de todos os possíveis impactos, sendo necessário realizá-los posteriormente na fase de licenciamento, tais como estudos mais aprofundados de fauna e flora, questões socioeconômicas, hidrogeológicas, entre outras. No entanto, o estudo realizado já apontou que o prolongamento dos molhes não trará impactos permanentes na faixa de areia da praia, como erosão de um dos lados dos molhes, pois o transporte de sedimento litorâneo desta região da praia não tem uma direção preferencial bem estabelecida, ou seja, ocorre nos dois sentidos da praia. Em contrapartida, o estudo apontou como um dos possíveis impactos a entrada de ondulação no interior da lagoa e sugeriu uma provável necessidade de proteção nas margens internas da lagoa de Itaipu.
Claudio Menezes – Por que abatimento de carga entre 20 e 40% via eficiência de jardim filtrante? Não é um percentual pequeno? Por que não projetar esse número para um patamar a partir de 60/80 por exemplo? É possível buscar eficiência maior?
R: A eficiência dos jardins filtrantes depende das áreas dos jardins e, portanto, da área disponível para sua implantação no entorno da lagoa. Esta eficiência também varia de acordo com os parâmetros. A eficiência obtida para os jardins projetados para o Parque Orla Piratininga para cada parâmetro é apresentada na tabela abaixo:
Pt: fósforo total; NO3: nitrato; DBO: demanda bioquímica de oxigênio e SST: sólidos suspensos totais.
Conforme indicado nos estudos da dinâmica ambiental do Sistema Lagunar Itaipu-Piratininga, apenas a implantação dos jardins filtrantes não é suficiente para a despoluição da lagoa de Piratininga. Dessa forma, adicionalmente aos jardins, foram feitas modelagens de qualidade da água das lagoas considerando um abatimento adicional de 20% e de 40% da carga orgânica de cada uma das sub-bacias que drenam para as lagoas de Itaipu e de Piratininga. As modelagens mostraram que tais porcentagens de abatimento de cargas aliadas a algumas obras hidráulicas para melhorar a circulação hídrica do sistema lagunar possibilitam que se atinja níveis de qualidade de água Classe I (águas que podem ser destinadas: à recreação de contato primário; à proteção das comunidades aquáticas; à aqüicultura e à atividade de pesca).
Maurício Düppré – Considerando que a atividade pesqueira é um dos principais serviços ecosistemicos do sistema Lagunar, a instalação destes jardins filtrantes e as obras urbanisticas no entorno vão respeitar os espaços utilizados pelos pescadores artesanais, no entorno da lagoa? Lembrando que além de acesso a lagoa os pescadores precisam de espaço para manter suas atividades relacionadas a pesca como reparo e construção de emvarcacoes e apetrechos de pesca, guarda deste material com seguranca, além de espaço de desembarque de pescado e armazenamento de produção com acesso para veículos para o escoamento desta produção. Como exemplos podemos indicar o espaço dos pescadores da Lagoa Rodrigo de Freitas e dos pescadores da Apesbagua na lagoa do Camorim em Jacarepaguá.
R: Inicialmente discutimos com os pescadores a definição dos locais adequados para os piers de pesca. Neste momento estamos buscando atendê-los, verificando as possibilidades da implantação de estruturas simples para a guarda de barcos e demais petrechos de pesca.
Antônio Oscar Peixoto Vieira – foram feitos estudos sobre os custos para fazer a manutenção dos moles? Considerando que quanto maior o mole, mais cara será sua manutenção.
R: Sim, foi estimado o custo para diferentes comprimentos de molhes. A estimativa de custo para prolongamento dos molhes em 80m é de R$ 5.883.840,00 por molhe e para prolongamento em 140m é de R$ 10.296.720,00 por molhe.
Beatriz Maestá – Desculpe se foi falado e eu não consegui pegar, mas qual a proposta para o lodo? Os jardins filtrantes atuam nisso?
R: Os jardins filtrantes não atuam sobre o lodo já existente, porém ajudam a impedir o aporte de mais sólidos para o interior da lagoa. Sobre o lodo já existente, a Prefeitura está lançando um edital para contratação de serviços com a finalidade de buscar soluções para a remoção e tratamento desse lodo.
Kátia Duarte – é necessário FISCALIZAR a ÁGUAS DE NITERÓI. Responsabilidade da EMUSA, a pergunta que não quer calar: como foi e está o Programa Se Liga?
R: Há programação, pelo que entendi, em conjunto com a SMARHS e Águas de Niterói e, também, com o CLIP, para a atuação sistemática por cada bacia hidrográfica. Além disso, é necessária a realização de campanha intensiva estimulando os próprios moradores a examinarem a destinação dos esgotos de sua residência. Isto está sendo conversado com Águas de Niterói.
Jorge Gabriel Fernandes – A pergunta é se apenas foi considerado a desobstrução ou um conjunto de intervenções na altura do dique e funcionamento das comportas? Conforme era previsto no projeto original do Túnel
R: Os cenários simulados levaram em consideração a desobstrução dos molhes e o atual funcionamento e altura das comportas do túnel do Tibau.
Luciana Loto – tem estudos de como era o cenário na lagoa de Piratininga antes da obstrução do túnel do Tibau? Ou seja, foi eficiente o intercambio da lagoa e mar nos tempos em que o túnel do Tibau foi construído até antes de se obstruir?
R: Há sim alguns dados de monitoramento antes da obstrução do túnel. Os registros e monitoramentos realizados demonstram que após a obstrução do Túnel do Tibau houve piora da qualidade de água na Lagoa de Piratininga, reforçando a necessidade de manter esse canal desobstruído. E as simulações matemáticas confirmaram que o túnel livre de desobstrução aumenta bastante a renovação hidráulica do sistema, reduzindo o tempo de residência de 9 meses para 6 meses.
Claudio Menezes – Ao longo das intervenções em Piratininga, teremos a necessidade de alguma intervenção em relação a ocupação desordenada e remoção de construções ilegais? Como fica a questão fundiária no entorno?
R: A Prefeitura está realizando projetos paralelos para reordenação do território ocupado às margens da Lagoa, inclusive com iniciativas de regularização fundiária das áreas de especial interesse social (AEIS), que podem ser enquadradas na legislação de referência REURB-S.
Claudio Menezes – Uma dragagem em Piratininga com a remoção ou tratamento do lodo; como fica?
R: A Prefeitura de Niterói está em vias de contratar empresas/instituições através de novo procedimento jurídico-administrativo, chamado Encomenda Tecnológica (ETEC) para o desenvolvimento e aplicação de tecnologias a fim de aplicar testes, in situ, para redução da camada de lodo da Lagoa de Piratininga, com objetivo não apenas de reduzir a camada lodosa como também promover o aumento da coluna d’água e consequentemente melhoria das condições ambientais na lagoa.
Claudio Menezes – Piscosidade melhor, e balneabilidade?
R: As ações propostas também melhorarão as concentrações de coliformes e, consequentemente, a condição de balneabilidade do sistema lagunar Piratininga-Itaipu devido à redução do aporte de cargas, do aumento da capacidade de renovação, diluição e decaimento dos coliformes.
Jose W Ricchetti – Conheço pessoas de poder econômico e estudo que não fazem parte do se liga, em Itaipu e engenho do mato. Imagina as mais dê cinquenta comunidades
R: As Comunidades identificadas com AEIS na orla da Lagoa de Piratininga serão objeto de projetos de reurbanização, com coleta dos esgotos sanitários para destino às estações de tratamento e reestruturação das redes de drenagem para que se organize o fluxo de água pluvial (de chuva) e esgotamento sanitário totalmente separados. Também serão organizadas ações sociais para informar a população local da importância desta separação e sua manutenção
Sonia Menezes – O túnel do Tibau já está há 2 anos obstruído?
R: A vistoria contratada pela PMN na qual confirmou-se a obstrução parcial do túnel do Tibau aconteceu em junho de 2020, no entanto moradores especulam que esse desabamento das rochas já tinha ocorrido anos antes. A inspeção foi realizada posteriormente ao intenso índice pluviométrico ocorrido em abril que fez com que o nível da lagoa aumentasse sem a posterior redução do mesmo. Ainda, viu-se que o fluxo de água entre o oceano e a lagoa estava diminuído. Após inúmeras reuniões e conversas entre o órgão ambiental Estadual (INEA) e a Prefeitura Municipal de Niterói ficou acordado entre as partes que a PMN faria a obra de desobstrução do túnel. Sendo assim, foi feito processo licitatório e a empresa vencedora está desde agosto de 2020 trabalhando para desmonte de rochas e desobstrução do túnel do Tibau.
Luís Carlos Soares – Como foram feitas as estimativas de custos das ações?
R: Os orçamentos das obras apresentados é uma estimativa inicial baseada em obras semelhantes realizadas em outras regiões e nos seus custos unitários.
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Jean Philippe – O lodo das Lagoas podem Virar Biogás? Podem ser levados para um biodigestor?
R: No estudo realizado pela Hydroscience foram feitas coletas e análises do sedimento no sistema lagunar Piratininga-Itaipu. Tais resultados poderão embasar estudos futuros e auxiliar na definição da melhor solução para o tratamento do lodo. A Prefeitura está lançando um edital para contratação de serviços com a finalidade de buscar as melhores soluções para o tratamento e remoção desse lodo. Porém, até o momento não está definida a solução a ser aplicada.
Duda Blois – como será o despejo das dragagens?
R: O despejo do material dragado ainda não é conhecido e está em fase de estudo.
Maurício Düppré – Se os cenários projetam um aumento da produtividade pesqueira, o que foi planejado como espaços de apoio aos pescadores artesanais lagunares, que precisam de espaços adequados e seguro para manterem seu meio de vida com dignidade?
R: Inicialmente discutimos com os pescadores a definição dos locais adequados para os píeres de pesca. Neste momento estamos buscando atendê-los, verificando as possibilidades da implantação de estruturas simples para a guarda de barcos e demais petrechos de pesca.
Paulo Bidegain – Qual o custo de manutenção dos molhes? Com 130 metros. total 260 metros. O Corpo de Engenheiros do Exercito Americano estimou para um molhe de 110 metros o custo de manutenção de US$ 2,25 milhão por ano. Molhes não tem custo zero de manutenção.
R: Os molhes são dimensionados para que não haja necessidade de manutenção das suas estruturas. Desconhecemos a informação citada acima e é preciso entender melhor o contexto desta estimativa de custo para que seja possível fazer comparações. Em alguns casos, se prevê a manutenção da profundidade do canal com execução de dragagens periódicas e este custo pode ser elevado dependendo das características da região e dos molhes. No caso de Itaipu, com o prolongamento dos molhes em 140m não seriam necessárias essas dragagens periódicas de manutenção do canal em intervalos inferiores a 10 anos. No entanto, caso se opte por manter os molhes no comprimento atual, estima-se que seja necessárias dragagens de manutenção a cada 5 a 7 anos.
Jorge Gabriel Fernandes – E o preço da dragagem para resolver o problema do fósforo?
R: A dragagem para remoção do aporte interno de fósforo deve ocorrer por toda a
Lagoa de Piratininga e retirada de no mínimo 0,5m. Com isso o volume de dragagem é de aproximadamente 1,435 hm³, com custo estimado em R$ 45 milhões. Porém, recomendamos que seja dragado em torno de 1m para aumentar a profundidade de modo mais efetivo uma vez que a profundidade média da lagoa é de 0,5m. Com isto o custo seria aproximadamente R$ 90 milhões.
Claudio Menezes – Em relação a dragagem a partir do túnel Tibau, esse canal “refeito” não deveria seguir inclusive no entorno da Ilhota e no formato espinha de peixe?
R: Sim, a dragagem para remoção do fósforo deve contemplar toda a área da lagoa, incluindo o entorno da Ilhota.
Léo Soriano – Vocês tem planos para uma futura consultoria na lagoa de Araruama na região dos lagos que engloba vários municípios do entorno?
R: Até o momento não temos previsão para realizar estudos semelhantes na região de Araruama. No entanto, acreditamos que a região precisa ser estudada e assim que surgir esta oportunidade temos grande interesse na sua realização.
Katia Vallado – Foi estudado o impacto na faixa da areia em Itaipu e Camboinhas com o aumento do Molhe?
R: O estudo realizado apontou que o prolongamento dos molhes não trará impactos permanentes na faixa de areia da praia, como erosão de um dos lados dos molhes, pois o transporte de sedimento litorâneo desta região da praia não tem uma direção preferencial bem estabelecida, ou seja, ocorre nos dois sentidos da praia de forma igualitária.
Claudio Menezes – Como podemos, nós ambientalistas (Grupo S.O.S Lagoa) apresentar e ou de alguma maneira participar, apresentar sugestões e propostas aos projetos? Como estreitarmos essa relação?
R: O PRO Sustentável sempre foi um programa que prezou pela participação da sociedade civil, acadêmica e principalmente dos moradores da região. Todos os projetos foram desenvolvidos e pensados a partir das consultas e solicitações da população. Nossos canais de comunicação sempre estiveram abertos. Quem desejar pode entrar em contato através do e-mail ugpcaf.niteroi@gmail.com.
Claudio Menezes – Sobre as wetlands, não seria também uma alternativa ao destino e tratamento do lodo?
Guto Pontes – wetlands poderia ser uma solução para o lodo da dragagem???
R: Wetlands não são uma solução para tratamento de lodo.
Luciano Paez – Uma grande ação para abatimento de cargas nas bacias que drenam para as lagoas é o saneamento das comunidades em áreas informais. E a prefeitura está iniciando este trabalho na ciclovia e no jacaré. Existe previsão de ampliação deste modelo para as demais comunidades?
R: Sim, existe a previsão de estender os projetos e obras de saneamento ambiental para as comunidades na orla da Lagoa de Piratininga, identificada como AEIS, que são Almirante Tamandaré, Acúrcio Torres, Iate Clube e Tibau.
Guto Pontes – Gustavo Sardenberg pergunta qual impacto futuro desse aumento de salinidade do sistema lagunar nas águas subterrâneas da região?
R: Ainda que salinidade do sistema já esteja elevada atualmente, 22 ppm e 29 ppm em Piratininga e Itaipu, o aumento futuro da salinidade poderá impactar nas águas subterrâneas. No entanto, nesta fase dos estudos não se avaliou os aspectos hidrogeológicos e sugere-se que isto seja objeto de estudo técnico específico caso sejam realizadas as obras sugeridas, como o canal de dragagem.
Maurício Düppré – Minha pergunta não foi respondida! Pier não atende a todas as atividades relacionadas a pesca. Por isso exemplifiquei com dois espaços laborais de pesca Lagunar na cidade do Rio de Janeiro. Construídos coletivamente atendendo as demandas dos pescadores, coletiva e individualmente. Nós colocamos a disposição em contribuir nesta formulação.
R: Repetimos que inicialmente discutimos com os pescadores a definição dos locais adequados para os píeres de pesca. Neste momento estamos buscando atendê-los, verificando as possibilidades da implantação de estruturas simples para a guarda de barcos e demais petrechos de pesca.
Paola Levy – Parabéns pela clara explanação. Pelo que contatou na Lagoa de Itaipú, qual seria o prazo que recomendaria para o início das obras de Longo Prazo?
R: Ainda não há definição por parte da PMN quais intervenções/obras indicadas pelo estudo que serão realizadas. Dependendo da obra deverão ser feitos projetos básico e executivo previamente à obra, podendo levar a uma maior demora.
Claudio Menezes – É falsa essa afirmação da prefeitura, sobre estarem regularizadas as áreas ocupadas no entorno. Existe um problema social, mas a ocupação decorre em grande maioria de uma falta de fiscalização e controle.
R: A Prefeitura não fez tal afirmação, estamos cientes que parte expressiva do território ocupado nas áreas adjacentes à Lagoa de Piratininga tem ocupação irregular. E, neste sentido, estão sendo executadas ações de regularização nas áreas de especial interesse social e organizadas iniciativas para regularização das áreas ocupadas irregularmente pela população que não se enquadra em risco de vulnerabilidade social.